sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Sintomas Psíquicos e a Prática da Fé Cristã Protestante







Trabalho de Conclusão de Curso para Formação em Psicanálise Clínica

Nome Completo: Jarivelto Rangel
E-mail:  jariveltorangel@gmail.com
Conclusão: 2º SEMESTRE / 2022
Curso: Formação em Psicanálise Clínica
Unidade: Campinas (SP) 
Professores: André Figueira e Paulo Vieira


 

Dedicatória

Dedico este trabalho a minha família que tornou possível sua realização.

 

Agradecimentos

Agradeço a todos que direta e indiretamente cooperaram para o sucesso da minha formação.


Citação

 

“A medida que aumenta o conhecimento científico diminui o grau de humanização do nosso mundo. O homem sente-se isolado no cosmos porque, já não estando envolvido com a natureza, perdeu a sua "identificação emocional inconsciente" com os fenômenos naturais. E os fenômenos naturais, por sua vez, perderam aos poucos as suas implicações simbólicas.”

Carl Gustav Jung


Introdução

 

Os sintomas psíquicos não são exclusividade de um grupo ou tipo de pessoa, é inerente a todos. Questões como ansiedade, depressão, angústias e até simples frustrações em afazeres do dia a dia, geram conflitos internos que afetam todas as pessoas, em geral. Nesta pesquisa abordaremos esses males e como o indivíduo, que é cristão protestante no exercício da sua fé, lida com tais realidades. Vivendo em um sistema religioso que por vezes vê a depressão como falta de Deus, discorreremos neste trabalho sobre o fato de que uma pessoa cristã protestante, não está isenta de tais sentimentos. O cristão protestante também sofre ansiedade, depressão e angústia? Ele pode buscar auxílio na terapia psicanalítica com profissionais qualificados?

Se faz relevante analisar se na busca pela resolução dos  conflitos internos, o cristão procura a cura na prática de sua fé e crença religiosa em lugar da terapia psicanalítica, por motivos de pressão e constrangimento ou se é por decisão própria. É o objetivo desta pesquisa, a investigação sobre se há ou não incompatibilidade entre a profissão de fé e o atendimento terapêutico oferecido pela psicanálise.

Neste trabalho, a partir de pesquisa bibliográfica,  abordaremos o surgimento do cristianismo protestante na história e seu desenvolvimento e em seguida, discorreremos sobre o que é a  psicanálise e sua abordagem dos sintomas psíquicos como  ansiedade, depressão e angústia. Seguindo, apresentaremos passagens bíblicas com personagens sofrendo tais males e a presença deles hoje na vida do cristão protestante. Concluiremos apresentando se a análise psicanalítica, feita por profissionais qualificados, é ou não um caminho de auxílio possível independente da fé que o indivíduo professe.   

 


1. O Surgimento do Cristianismo Protestante

 

A base historiográfica para conhecimento e compreensão do surgimento do cristianismo protestante está na bíblia. Nas sagradas escrituras encontramos a narrativa da criação do mundo e o desenrolar da história da humanidade a partir da ótica cristã. Embora a bíblia para o cristão, seja muito mais que um simples livro que conta uma história, sendo ela acima de tudo a revelação de Deus e sua palavra transmitida ao homem, levando em conta seu peso espiritual e também histórico, nos fundamentamos nela para apresentar o início do cristianismo.

No livro de Gênesis temos a narrativa do homem criado por Deus cometendo o pecado da desobediência contra seu Criador. A atitude de comer do fruto proibido fez entrar o pecado no mundo fazendo a separação entre o homem e Deus. Depois de milhares de anos, a relação de Deus com um povo específico escolhido por ele,  a narrativa bíblica chega ao Novo Testamento e nos apresenta o evangelho. Em João é descrito o Verbo encarnado de Deus, Jesus Cristo que vem ao mundo oferecer sua vida para pagar pelo pecado cometido pelo homem.

Os evangelhos narram a vida de Jesus, seus ensinamentos, morte e ressurreição e avançando para o livro de Atos a partir dos apóstolos, encontramos a continuação da mensagem salvadora de Cristo. A partir da pregação dos apóstolos e de outras pessoas que iam se convertendo, os mensageiros do evangelho passaram a ser chamados de cristãos tornando conhecido assim o cristianismo.

O Império Romano foi um algoz do cristianismo nos primeiros séculos, até o século IV quando o imperador Constantino supostamente se converte ao cristianismo e o torna religião oficial do estado. Diante de todo sincretismo religioso, interesse político e distorção dos princípios cristãos, cessam a s perseguições aos cristãos, que agora recebem templos antes dedicados a cultos de diferentes deuses, estabelecem a Igreja Católica desenvolvendo ao longo dos anos suas diretrizes e doutrinas.

Já tendo passado pelo Grande Cisma no século XI, quando a igreja católica se divide em duas, outro grande acontecimento se concretiza no século XVI, a Reforma Protestante. Monges da igreja católica entre outros oficiais da igreja, com destaque para Martinho Lutero, se posicionaram contrários aos ditames católicos que aos olhos de muitos estavam corrompidos. Esse posicionamento buscava reformar a igreja, mas resultou em um rompimento. A igreja católica seguiu existindo e os dissidentes passaram a ser chamados de cristãos protestantes e reformados.

Neste ponto da história é iniciado a diversidade denominacional existente no meio cristão protestante. Com o passar dos anos surgem batistas, presbiterianos, metodistas, congregacionais entre outros. Essas denominações que hoje são chamadas de tradicionais e históricas, dão origem a uma vasta gama de outras denominações que conhecemos atualmente. Todas ao seu modo, interpretam a bíblia e encaixam suas narrativas nas suas vontades doutrinárias. O cristião protestante hoje é identificado como evangélico, aquele que pertence ao movimento gospel, o que muitas vezes descaracteriza o cristianismo protestante e reformado. É nesse contexto, que abordamos o cristianismo protestante para discorrer sobre sintomas psíquicos passíveis aos seus praticantes.

Conhecendo o cristianismo protestante, seu surgimento e história, sua presença hoje no mundo, podemos trabalhar com maior propriedade a maneira como as terapias que se ocupam do estudo da mente são recebidas nesse meio. Nessa pesquisa tomaremos especificamente  a psicanálise como referência. Para discorrer sobre o uso da terapia psicanalítica e sua capacidade de auxílio nos transtornos psíquicos, tanto para um público geral quanto especificamente para aqueles que professam sua fé e prática no cristianismo protestante, entendemos que se faz necessário apresentar o que é a psicanálise, como funciona sua metodologia, o que é para ela a depressão, ansiedade e angústia. Esses pontos compõem o que apresentaremos no tópico a seguir.

 

 

2. Conhecendo o que é a Psicanálise. Depressão, Ansiedade e Angústia.

 

No caminho rumo ao conhecimento do que é a psicanálise, voltamos a atenção para aquele que é considerado o pai deste método, Sigmund Freud. Nascido em 6 de maio de 1856 em uma vila morávia em Freiberg, de família judaica, ainda criança se muda para Viena onde mais tarde ingressa na Universidade de Viana e cursa medicina. Em seus estudos, as doenças relacionadas à mente humana se tornaram seu principal foco, ele se forma em neurologia e segue se aprofundando nos estudos da psique.

Freud passou um período se especializando na França, estudando com Charcot e de volta a Viena, desenvolve suas pesquisas e trabalhos com Breuer. Neste período, Freud tem contato com a hipnose e método catártico, abordagens que abandona posteriormente passando então a livre associação que se torna base no desenvolvimento do método psicanalítico. No seu percurso estuda a histeria, a fonte de surgimento das neuroses, se aplica ao estudo da sexualidade e sua relação com tais sintomas, revoluciona ao publicar a Interpretação dos Sonhos,  além de deixar como legado a afirmação da existência do inconsciente, a estruturação da psique humana entre muitas outras construções que abrem as portas para a fundamentação da psicanálise, sua existência e surgimento, assim como abre caminhos para tantos outros que o sucedeu.

Podemos definir a psicanálise como um método terapêutico, uma técnica de investigação da mente que trabalha com informações do inconsciente que são externadas de diferentes formas. Ela segue pelo caminho da ciência interpretativa hermenêutica, onde o psicanalista vai analisar e interpretar a fala do analisando visando tratar os conflitos internos. O atendimento clínico tem como base a escuta, quando o paciente fala e o psicanalista ouve, cabendo ao terapeuta manter a atenção flutuante na aplicação do método da associação livre.

Diante do que já foi exposto, podemos melhor fundamentados, especificar a abordagem da psicanálise sobre depressão, ansiedade e angústia. A psicanálise é um método de investigação, neste sentido o trabalho terapêutico busca a origem do problema, o que pode ter ocasionado o problema que está se manifestando no indivíduo. Não se trata de um simples acompanhamento e intervenções no padrão comportamental, mas a psicanálise mergulha na análise profunda da gênese do sintoma. Neste sentido, depressão, ansiedade e angústia são sinais aparentes de algum desequilíbrio emocional, algo ocorrido no passado que pôde naquele momento não ter sido bem recebido e trabalhado, e que no presente expressa-se como uma patologia. O método psicanalítico vai em busca da causa e possíveis caminhos de cura.

Existe uma neurose como pano de fundo que ocasiona a depressão. Entender o conflito interno que surge com o desejo inconsciente que se mostra incompatível com a realidade do mundo externo, permite elucidar a causa, e assim tratar com maior propriedade o sentimento depressivo expresso pela pessoa. Da mesma maneira segue o entendimento sobre ansiedade, ainda que seja natural ter ansiedade, a permanência excessiva do estado ansioso no indivíduo é o que se caracteriza como um problema. Tanto a depressão quanto a ansiedade, revelam um estado emocional de desequilíbrio interno. A pessoa nesse estado tem dificuldades nas tarefas simples do dia a dia, desenvolve sintomas psicossomáticos, enfrenta problemas para lidar com a realidade dos acontecimentos da vida, encontra barreiras nas relações interpessoais entre muitos outros sintomas que conduzem a tristeza e sofrimento.

Quanto a angústia, ela apresenta uma condições que perpassa por vários outros pontos abordados pela psicanálise. A angústia desperta uma condição existencial, se mostra como um profundo estado de sofrimento, apresenta um conjunto de sentimentos que desencadeia um turbilhão de sentimentos e emoções que apertam o peito, geram medo e terrores os quais o indivíduo sofrendo desse mal, não consegue compreender gerando o desespero de um vazio existencial. Com esses pontos expostos e melhor compreendidos, passaremos a alguns exemplos na bíblia onde poderemos constatar a possibilidade desses sentimentos presentes em alguns personagens bíblicos. 


3. Exemplos Bíblicos


No livro de Jó (7.11-16) temos um exemplo muito claro do estado abatido que Jó se encontrava. Havia uma inquietude em sua alma causada pelos acontecimentos inesperados em sua vida.

Nesta passagem Jó fala sobre a aflição do seu espírito e amargura de sua alma, fala sobre não conseguir descansar durante o sono, pois é atormentado e ainda sobre desejar morrer em lugar de viver assim. Todas estas palavras expressam um estado depressivo, a realidade de alguém que por acontecimentos externos teve seu interior bombardeado. A não compreensão dos fatos ocorridos, a dificuldade de lidar com a situação adversa, geram um desequilíbrio emocional. 

Vivendo esta realidade Jó tem sua visão sobre a vida distorcida, e leva um longo tempo até conseguir se recuperar, e isso acontece quando ele entende que as causa de suas aflições são passíveis a todos quer sejam fiéis a Deus ou não, este ponto é importante para salientar que mesmo um cristão fiel, está sujeito aos sintomas psíquicos que podem surgir ao longo da vida. Não é culpa de Deus tais sofrimentos e não é culpa da pessoa o estado depressivo em que se encontra, são apenas situações inerentes a todos.

Outro exemplo é do apóstolo Paulo em sua carta aos Coríntios (2 Co.1.8 e 7.5). Ele relata ter passado por sofrimentos que o fizeram acreditar que não suportaria, a ponto de acreditar poder perder a vida. Em outro momento ele cita os combates que tiveram fora do corpo e os combates internos. Entendemos aqui, como em outras passagens que poderiam ser citadas, que no caminhar do apóstolo, muitas situações traziam tristeza, abatimento e desânimo.

Muitas foram as adversidades vividas por este apóstolo e ele não nega as suas profundas tristezas, da mesma forma hoje, situações podem levar o cristão a este estado. Dentro do contexto do atual do modo de vida em que a sociedade experimenta, muito diferente do apóstolo, a humanidade aflora da mesma maneira por causas que podem ser diferentes, mas que resultam nos mesmo fatores sintomáticos de desequilíbrio emocional.

Temos em Jeremias 20.14 outro claro exemplo dos sintomas psíquicos. O profeta lamenta o fato de ter nascido tamanho seu estado, aí nesse caso, de angústia. A realidade se mostra tão diferente do desejo do seu coração, a ponto de embaçar sua visão. Jeremias tinha expectativas diferentes daquela que os seus olhos viram acontecer ao seu redor, lidar com tais situações se mostra difícil para ele. Entender o que gerou tais sintomas e buscar o equilíbrio tendo clareza dos fatos, se mostra como um caminho para resolução do sentimento de angústia. Contextualizando a situação de Jeremias vale ressaltar dois pontos, um é sua fé e certeza na promessa de Deus, fato ligado a sua profissão de fé, e outra é a capacidade de compreender os processos da mente e a possibilidade de estabelecer um equilíbrio.

Citamos mais um exemplo que nos é apresentado no livro de Rute com destaque para o capítulo 1.1-6. Nesta passagem é narrada a história de Noemi, e a perda de seu marido e filhos a deixando só com suas noras. A perda de seus familiares fez com ela entrasse em um profundo estado depressivo. ela foi acometida de ansiedade e angústia diante dos fatos que vivenciou.

A perda de entes queridos comumente gera sentimentos de ansiedade, depressão e angústia. O sentimento de perder alguém do convívio e a certeza do vazio que permanecerá pode resultar em dificuldades para manter o equilíbrio interno. No contexto vivido por Noemi, ela se considerava inválida naquele momento da vida quando se sentia como alguém inútil que não despertaria o interesse nos outros de manter com ela um vinculo.

Fechando os exemplos de personagens bíblicos citamos o profeta Elias. O capítulo 19 de 1 Reis nos apresenta um desejo de morte que o profeta expressou. As adversidades, tanto as passadas quanto as que estava a viver naquele momento, sufocavam tanto sua alma que o desespero tomou conta aflorando o desequilíbrio emocional. Mesmo sendo um fiel seguidor de Deus, mesmo contanto com sua ajuda divina, Elias não esteve isento de sentir angústia. As escrituras revelam que no relacionamento com o homem, Deus não o exime dos sentimentos e emoções que compõem a estrutura psíquica humana. Todos estão passíveis a depressão, ansiedade e angústia.      

 

3. O Preconceito Existente

A palavra preconceito diz respeito a uma opinião ou forma de pensamento sobre um assunto onde, as formulações e conclusões nunca estão fundamentadas sobre a verdade, são apenas expressões do desconhecimento e medo. É muito comum pessoas afirmarem suas opiniões sobre temas que não conhecem e não buscam conhecer. As influências que recebem  determinam suas conclusões não abrindo margem para a reflexão, estudo e pesquisa, que sãos os caminhos para compreender questões como o uso da psicanálise no meio cristão protestante.

A psicanálise se desenvolveu em um longo caminho, embora reconhecidamente esteja sempre ligada a Freud seu precursor, a psicanálise se expandiu para muito além do pensamento dele. Muitos outros pensadores surgiram e abriram um leque de possibilidades traçando caminhos que tornaram a psicanálise muito mais do que simplesmente freudiana. Não se deve julgar o que é o método psicanalítico a partir da biografia de Freud, mas sim levando em consideração todo o conteúdo hoje presente na construção de suas bases.

As críticas e preconceitos no meio cristão protestante que comumente surgem, estão sempre ligadas ou ao comportamento antireligioso de Freud, ou a pressupostos de seus estudos que não coadunam com princípios cristãos. Porém se seguirmos adiante, muitas formulações e pesquisas renderam descobertas extraordinárias que inquestionavelmente contribuem de forma revolucionária para os processos terapêuticos de cura dos sintomas psíquicos. Entendemos que assim como a história da psicanálise nos conta, independente da fé que o indivíduo professe, ele pode discordar de algumas teorias se em sua base de conhecimento ele desenvolve uma ideia que se mostre melhor fundamentada ou que simplesmente, siga um caminho diferente da primeira. Como fez Jung, que naquilo que discordava, se aplicou a estudos e pesquisas que abriram as portas para novos caminhos e possibilidades, mas sem desconstruir a base.

Não se trata neste sentido de descartar conhecimento, mas o psicanalista hoje tem um vasto conteúdo com diferentes nomes de peso para se aplicar e buscar desenvolver sua prática, a partir daquela linha que melhor se identifica. Não é uma divisão da psicanálise, mas sim um uso de todas as ferramentas disponíveis e na prática, o terapeuta faz uso daquelas que coaduna com sua busca e trabalho, sempre se mantendo profissional e fundamentado no método, sem achismos ou invenções. O preconceito em relação ao uso da psicanálise nem sempre parte do cristianismo protestante, mas muitas vezes do próprio analista, neste caso sem generalizar, que desafia seu analisando em relação a sua fé, tomando uma atitude antiprofissional e mal calculada. Embora possa transitar pelas diversas possibilidades no tratamento analítico, o psicanalista faz uma aplicação que provadamente, não rende um bom resultado.

Voltando as atenções para o preconceito no contexto da prática da fé cristã protestante, a depressão, ansiedade e angústia ainda são mal compreendidas. O que cada um delas são, precisa ser esclarecido e apresentado de forma correta, de maneira que o cristão protestante construa seu pensamento sobre uma base sólida de conhecimento. Dentro do fundamento cristão, o homem sofre seus males e aflições devido ao pecado que cometeu contra Deus, na desobediência no Jardim do Éden. Entre outros males, as doenças físicas e também psicológicas surgiram como resultado de uma destituição da glória de Deus. Neste sentido não há como selecionar o que pode ou não ser tratado pela ciência médica, seja física ou mental, a patologia tem um tratamento profissional que em nada se choca com a profissão da fé. Não se trata de curas alternativas a partir de práticas de espiritualidade, mas de métodos científicos desprovidos do cunho religioso.

Na análise clínica psicanalítica, o desafio e confrontamento, a desconstrução e construção fazem parte do processo. No processo de investigação da mente, na busca das expressões do inconsciente o caminho não é simples, fácil e imediatista. Buscar auxílio na psicanálise resulta e olhar para dentro de si e muitas vezes enxergar um eu até então desconhecido. Vai gerar rupturas e mudanças, mas todas no sentido da cura dos sintomas psíquicos, ou mesmo um despertar para od devaneios do meio cristão protestantes e suas distorções da verdade, mas esses são pontos a parte da profissão de fé. Crer em Cristo e praticar a fé cristã protestante não gera neuroses, o que a gera é a desconstrução dos princípios e a manipulação exercida por líderes oportunistas. O mal não está na fé que o indivíduo professa, mas na falta do seu conhecimento a respeito da fé que abraça, se tornando uma pessoa manipulada por invenções de caráter humano distorcendo a verdade. 

 

Conclusão

 

O cristão protestante não está isento dos sintomas psíquicos. Ele vai em algum momento da sua vida, em algum grau, sentir os sintomas da depressão, ansiedade e angústia. Pode ser para alguns um processo que ocorre com maior profundidade, para outros de maneira mais suave, mas todos sem exceção, experimentarão em algum momento de sua vida esses sintomas que são inerentes a todos.

É aconselhável ao cristão protestante buscar auxílio na terapia psicanalítica quando estiver diante de situações que afligem sua vida. Deve-se ter atenção em relação ao profissional, a sua formação, ambiente em que atende e suas referências, esses são cuidados comuns a todos. Procure conhecer a linha que o terapeuta se identifica e segue, busque explicação de como se desenvolverá o processo e tenha sempre com muita clareza todo o andamento das seções. A psicanálise é um método de investigação da mente, o profissional qualificado tem por base o uso do método, sem acrescentar suas opiniões e achismos, respeita o processo no uso da técnica.

A presente pesquisa fornece informações que permitem concluir que não existe incompatibilidade entre a profissão de fé cristã protestante e a psicanálise. Ambas são distintas em seus objetivos. A psicanálise não faz uso de religiosidade e nem espiritualidade, não julga ou condena a prática de fé do analisando, não gera no processo escolha entre um e outro e não desencaminha o indivíduo de sua prática cristã. A terapia psicanalítica tem por base a aplicação do método investigativo, usa um conjunto de procedimentos e recursos técnicos no tratamento das causas dos sintomas emocionais que afetam a psique humana.     

 

Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Obras completas volume 11. Totem e Tabu, contribuição à história do movimento psicanalítico e outros textos (1912 - 1914). Tradução Paulo Cesar de Souza.  São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

FREUD, Sigmund. Obras completas volume 18. O Mal Estar na Civilização, Novas conferências introdutórias á psicanálise e outros textos (1930 - 1936). Tradução Paulo Cesar de Souza.  São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

FREUD, Sigmund. Obras completas volume 16. O Eu e o Id, “Autobiografia” e Outros Textos (1923 - 1925). Tradução Paulo Cesar de Souza.  São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

FREUD, Sigmund. Obras completas volume 16. Moisés e o Monoteísmo, Compêndio de Psicanálise e Outros Textos (1937 - 1939). Tradução Paulo Cesar de Souza.  São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

GAY, Peter. Freud: uma vida para o nosso tempo / Peter Gay; tradução de Denise Bottmann; consultoria editorial Luiz Meyer. - 2a ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Jung, Carl G. O Homem e seus Símbolos. Edição especial brasileira 6° edição. Tradução de Maria Lúcia Pinho. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1964.

LE BON, Gustave. Psicologia das multidões. Tradução de Ivone Moura Delraux. Título original: Psychologie Des Foules. Presses Universitaires de France, 1895. Edições Roger Delraux, 198O, para a língua portuguesa.

 

 

 

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