O fato de o cristão poder ou não comer
sangue, ainda gera muitas dúvidas no meio evangélico. Neste breve artigo
trataremos da representatividade do sangue no plano salvífico de Deus para o
homem, não com o objetivo de direcionar o pensamento quanto o poder ou não
comer sangue, mas apenas para levar a uma reflexão sobre este tema.
“Porque a vida de toda carne é o seu sangue.
Por isso eu disse aos israelitas: vocês não poderão comer o sangue de nenhum
animal, porque a vida de toda carne é o seu sangue; todo aquele que o comer
será eliminado.” Lv 17:14
“Mas não comam o sangue, porque o sangue é a
vida, e vocês não poderão comer a vida com o sangue.” Dt
12:23
O sangue simboliza vida, quando um animal era
sacrificado, tinha o objetivo de através deste sacrifício, pagar o preço devido
pelo pecado que alguém tivesse cometido. Quando o sangue do animal era
derramado, na medida em que ia escorrendo, significava o desintegrar/desconstruir
da vida ali presente, era necessário este sangue ser derramado, ou seja, era
necessário esta vida ser derramada, uma vida em lugar da outra, como o preço
cobrado pelo delito cometido.
Por este motivo, o sangue não poderia em
hipótese alguma ser consumido, pois comer o sangue seria o mesmo
que ser participante da vida do animal sacrificado, se tornar um com o
sacrifício daquilo que não era nem suficiente e nem eterno no seu cumprimento, mas
apenas um símbolo de redenção que viria com a chegada do Messias. Vale destacar
que ano após ano era necessário sacrificar, deveria haver o derramamento de
sangue, com determinações específicas para cada pecado cometido, só então era
alcançado o perdão.
Entende-se então que é com sangue que se paga
o pecado e que se cumpre o plano de Deus de resgatar o homem destituído de sua
glória. É possível entender melhor, quando se olha para o próprio Cristo, Ele é
perfeito, suficiente e eterno, o seu sacrifício foi um ato único, que
possibilitou a redenção.
“Todo
o que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como
o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta,
também viverá por mim.” Jo. 6:56 - 57
Jesus instrui a todo aquele que quer ter
parte com ele a comer da sua carne e a beber do seu sangue, Jesus aqui queria
dizer que para ser um com ele, as pessoas deveriam crer na sua doutrina, não
apenas pelos sinais e prodígios, mas pelo cumprimento da vontade do Pai nele, o
Cristo de Deus. Jesus deixou a ordenança de comer da sua carne e beber do seu
sangue, no momento da última ceia com os discípulos, representados pelos
elementos vinho e pão, assim, quando se toma o vinho da ceia, se recorda o
sacrifício de Cristo que no derramar do seu sangue/vida, comprou a todo quanto confessa
o seu nome por este alto preço, então os redimidos são justificados e salvos
Nele e sendo um com Ele.
O ingerir simbólico do sangue derramado na
cruz, faz lembrar o preço pago pelo pecado e também a união com Cristo, o
participar de sua vida, o ser um com ele, este sacrifício é suficiente e eterno
pois reconcilia em definitivo o eleito com o Pai.
Não que hoje não se deva consumir alimentos
que tem sangue, porque o sangue foi um símbolo usado para o homem entender a
necessidade de este ser derramado para remissão, não consumi-lo foi em respeito
a sua representatividade, e não que houvesse um mau no sangue propriamente
dito. Tudo o que serviu como símbolo daquilo que haveria de acontecer, já se
cumpriu em Cristo, o mistério já foi revelado.
Entende-se então o não comer sangue e seu porque,
enquanto forma de Deus comunicar ao homem seu plano. Comer uma carne mal
passada e outros alimentos assim pode ser cabível nos dias de hoje, pois o
ensinamento não esta na literalidade, mas na representatividade, ainda que no
passado fosse uma ordem literal, para os propósitos que já faram expostos.
"Portanto,
ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa,
ou da lua nova, ou dos sábados, Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo
é de Cristo" Cl 2.16-17
Para
finalizar destacamos o a passagem a seguir:
"Tomou Tiago a palavra,
dizendo: Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar
deles um povo para o seu nome... Por isso julgo que não se deve perturbar
aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. Mas escrever-lhes que se
abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do
sangue" At 15.13-14, 19-20
Houve por parte dos discípulos a necessidade
de se chegar num consenso daquilo que se deveria ser posto para cumprimento dos
não judeus que se convertiam, não comer sangue fez parte desta determinação,
mas diferente da contaminação com os ídolos e da prostituição, é possível
entender o não comer sangue, relacionado com o não gerar problemas no
relacionamento entre judeus e não judeus, esta no mérito de evitar escandalizar
o irmão.
Medite nas passagens citadas a seguir,
estude-as dentro de seus devidos contextos, e que o Espírito Santo nos ilumine
para a compressão correta das escrituras.
“É
melhor não comer carne nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa que leve
seu irmão a cair.” Rm
14:21
“Comei
de tudo quanto se vende no açougue, sem perguntar nada, por causa da
consciência.” 1Co 10:25
“E,
chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível.
Porque, antes que alguns
tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que
chegaram, se foi retirando, e se apartou [deles], temendo os que eram da
circuncisão.” Gl 2:11-12