O
episódio da transfiguração de Jesus tem rendido interpretações diversas, muitos
usam este texto para afirmar que é possível falar com espíritos de pessoas
mortas, pois entendem que o próprio Cristo teve esta experiência quando se
encontrou com Moisés e Elias no alto do monte.
Esta
passagem será abordada aqui a partir dos princípios exegéticos cristãos,
seguindo esta linha de pensamento poderemos concluir se é ou não possível se
comunicar com os mortos.
Vejamos
o que aconteceu naquele momento e a importância de Jesus ter se transfigurado
diante de Pedro, Tiago e João.
JESUS SE TRANSFIGURA (Mateus 17:1-8, Marcos 9:2-8 e Lucas
9:28-36)
Observando
rapidamente o contexto, voltamos a um momento anterior a transfiguração onde
Jesus conversava com seus discípulos sobre quem as pessoas diziam que Ele era e
sobre quem os próprios discípulos pensavam que Ele era. Neste momento Pedro por
inspiração Divina disse que Jesus era o Cristo, o Ungido de Deus, então Jesus lhes
ensina a respeito do que é ser discípulo e lhes fala sobre muitos não morrerem
antes de ver o Reino de Deus.
Por
mais que Jesus ensinasse e realizasse sinais e prodígios, os discípulos viam
Jesus em sua forma humana, não tinha ainda percepção de sua divindade, ao
chamar Pedro, Tiago e João em particular e se transfigurar diante deles, Cristo
estreita os laços íntimos com eles e lhes revela sua forma glorificada,
permitindo que eles vissem o Jesus que caminhava entre eles em forma humana,
resplandecendo como a luz, com vestes brancas e reluzentes, adentrando na
dimensão espiritual. Foi permitindo aos três viver a experiência da visão do
Deus Filho glorificado onde presenciam a evidência da divindade de Jesus
Cristo.
VEJAMOS TRÊS DIFERENTES EXPLICAÇÕES SOBRE A APARIÇÃO DE MOISÉS
E ELIAS
PRIMEIRO
A
bíblia apresenta expressamente a proibição de se consultar espíritos e a
impossibilidade de quem já morreu se comunicar com os vivos (Dt. 18.9-12;
Is.8.19; Gl.5.19-20; Ap. 22.15; 2Co. 11.14). Tendo este entendimento, pode-se
afirmar que a escritura não se contradiz em seus ensinamentos, então o que esta
passagem nos apresenta não são Moisés e Elias vindo novamente a terra em seus
espíritos para falar com Jesus.
Entende-se
aqui, como um caso particular onde Jesus sendo Deus, não havendo limitações em
sua absoluta soberania, adentra a dimensão espiritual e permite pelo seu
infinito poder que, três de seus discípulos vejam o que seria impossível diante
das limitações postas ao homem. Não é o caso de Moisés e Elias terem vindo para
a dimensão material, mais sim de Jesus adentrar a dimensão em que eles estavam.
Este
feito de Jesus é possível ao Deus Filho, pois ele não está preso às limitações
do homem e, enquanto Deus age conforme seu próprio beneplácito comunicando aos
seus três discípulos sua Glória e Majestade.
SEGUNDO
Uma
vez que a experiência vivida pelos três discípulos foi uma visão, e de maneira
nenhuma uma sessão de comunicação com os mortos, pode-se entender que os dois
homens que aparecem, como é narrado por Lucas, seriam Moisés e Elias num
sentido simbólico e não literal. Moisés representaria a Lei e Elias os
profetas, duas eras vividas pelo povo escolhido que agora começaria um novo
tempo, onde a lei e os profetas alcançam sua finalidade, Jesus Cristo.
TERCEIRO
Para
fins de conhecimento, e só para fins de conhecimento, citaremos aqui uma
terceira possibilidade já exposta por alguns, onde entende-se que sendo Deus,
Jesus transpassaria as limitações de tempo e espaço, onde tudo o que já foi
ainda é, e tudo o que será já foi, ao mesmo tempo em que tudo é agora. Seria o
caso de uma viajem no tempo, onde Jesus reúne diante de si homens tirados de
suas eras e estes, se comunicam sem se limitarem ao tempo cronológico o qual
vivemos.
ALGUMAS OBSERVAÇÕES VÁLIDAS DE ATENÇÃO
Em
momento nenhum os dois homens que aparecem com Jesus dirigem a palavra a Pedro,
Tiago e João, este três são apenas expectadores de um acontecimento.
Não
lemos na bíblia Jesus dizendo a estes três que aqueles que apareceram diante
dele foram Moisés e Elias.
Não
lemos também Jesus lhes repreender quando estes atribuem os nomes de Moisés e
Elias aos dois homens que viram.
Como
os discípulos sabiam que se tratava de Moisés e Elias?
Sendo
dois personagens bíblicos que viveram em eras passadas, como eles foram
reconhecidos por Pedro, Tiago e João se estes nunca os haviam visto?
Seriam
literalmente Moisés e Elias ou apenas anjos que lhes representavam?
CONCLUSÃO
Pode-se
afirmar que é impossível interpretar este texto entendendo que pessoas mortas
podem voltar a esta vida em seus espíritos para se comunicar com os vivos.
Entende-se
que não há limitações para os feitos de Jesus, Deus faz como quer, quando quer,
com quem ele quiser. Tudo tem o seu propósito, e enquanto seguidores do Mestre
nos limitamos aos ensinos expressos nas escrituras, não indo além do que está
escrito.
Muitos
ensinamentos podem ser extraídos desta passagem quando abordada no mérito
devocional em lugar de apologético, mas se limitando ao objetivo aqui,
fundamentados nas escrituras, se conclui que os mortos não se comunicam com os
vivos.